Revolução Russa (5 de 6): O governo de Lênin (1917-1924)


Os sinais de que a Revolução Socialista não toleraria oposição e manteria o poder centralizado evidenciam-se desde a tomada de poder pelos bolcheviques. Vimos que Trotski organizou a Guarda Vermelha, sustentáculo dos bolcheviques. Contudo, formou-se, também a Tcheka, uma polícia política secreta com a função de perseguir opositores do regime.


Na medida em que não conseguiram maioria no Congresso, os bolcheviques simplesmente dissolveram a Assembleia Constituinte e criaram o Partido Comunista, gradativamente reduzindo o poder popular e dos sovietes, transformando a ditadura do proletariado em uma ditadura do Partido Comunista, comandado por Lênin e Trotsky.


Outro exemplo da intolerância do agora Partido Comunista foi à repressão aos marinheiros do porto de Kronstadt, que haviam sido os primeiros que aderiram ao processo revolucionário, tidos como heróis. Como em 1921 a situação já evidenciava um descaminho do poder e Kronstadt começou a se opor abertamente aos rumos da revolução e ensaiar uma suposta “terceira revolução”. O Exército Vermelho levou 10 dias para vencer e massacrar Kronstadt, executando milhares de sobreviventes ou mandando-os para prisões na Sibéria.


Percebendo que as insatisfações começavam a se intensificar, e que o modelo de Comunismo de Guerra não estava funcionando, Lênin colocou em prática a Nova Política Econômica (NEP) (1921-1928), que nada mais era do que um flerte com o sistema capitalista, com a função de dinamizar a economia russa, motivar a produção e garantir o abastecimento. Entre as medidas adotadas por Lênin com o novo plano econômico estavam privatizações, salários diferenciados de acordo com determinadas funções, abertura para o capital estrangeiro, pequena manufatura privada, pequeno comércio e a venda livre de produtos pelos camponeses nos mercados. Apesar de ser um sucesso, a NEP foi abandonada a partir do momento em que Stálin centralizou o poder em suas mãos.


“No início da primavera, Lênin precisou encarar o fato de que, depois de mais de três anos, o comunismo tinha fracassado em alimentar o povo russo e os métodos econômicos que ele e seu partido tinham imposto levaram à falência e à fome generalizada. Em março, em um abandono dramático do dogma comunista, ele apresentou a Nova Política Econômica (NEP), desenvolvida para restaurar elementos do comércio e câmbio capitalistas, e permitir relações comerciais com o mundo externo. Acordos comerciais foram assinados com o Reino Unido, a Polônia e a Alemanha, e as exportações começaram, depois de uma lacuna de vários anos, para a Europa Ocidental e para os Estados Unidos.


Na Rússia, quando a última revolta camponesa na Sibéria estava sendo suprimida, a imposição compulsória para o fornecimento de grãos foi abolida, e as entregas compulsórias de produção agrícola foram substituídas por um imposto em espécie para o Estado que somava apenas um pouco mais da metade da produção que antes teria sido requerida compulsoriamente. Os camponeses também receberam permissão para comercializar os excedentes da produção de grãos, batata e feno. De acordo com uma lei agrária de 21 de março, pequenos proprietários poderiam manter suas terras por, pelo menos, nove anos. Lênin reconheceu que não podia alimentar os trabalhadores nas fábricas se os pequenos proprietários fossem expulsos de suas propriedades, e os campos, distribuídos em propriedades ainda menores aos camponeses, pois esses últimos não as administravam melhor e produziam menos. “Nós não podemos impedir o progresso do capitalismo”, Lênin declarou no dia 6 de maio, “mas podemos tentar transformá-lo em um capitalismo estatal russo.” Outro decreto autorizou fábricas nacionalizadas a serem transferidas para cooperativas e até mesmo para indivíduos. Lojas puderam ser abertas nas cidades, e o comércio pôde ser realizado nos mercados, sem ser impedido pelas autoridades. Em 23 de novembro, na expectativa de atrair capital estrangeiro – cinco anos depois da revolução que queria destruir o capitalismo para sempre –, Lênin autorizou capitalistas estrangeiros a adquirir concessões dentro da Rússia e a investir em empresas que visavam o lucro, incluindo arrendamento e aluguel de propriedades. Sob uma Lei Agrária daquele mês de dezembro, camponeses poderiam manter quaisquer produtos necessários para seu próprio sustento e de suas casas.” (Gilbert, Martin. A história do século XX. São Paulo : Planeta, 2016)


Lênin, considerado o grande líder da revolução, morreu em 1924, abrindo espaço para uma disputa de poder entre Trotsky e Stalin. 


“Trótski foi escolhido por Lênin para sucedê-lo. “Stálin é muito bruto”, ele escreveu, “e esse defeito, embora bastante tolerável em nosso meio e ao lidar com outros comunistas, torna-se intolerável em um secretário-geral. É por isso que sugiro que os camaradas pensem em uma forma de retirá-lo desse posto e apontar outro homem que, em todos os aspectos, seja diferente do camarada Stálin em sua superioridade, ou seja, mais leal, mais polido, que tenha mais consideração por seus camaradas, menos caprichoso etc.”.

Como secretário-geral do partido comunista desde o começo de 1922, Stálin estava em posição de comando para vencer Trótski usando de astúcias. Lênin queria que seu testamento fosse de conhecimento comum, mas o documento foi guardado por 33 anos, até depois da morte de Stálin.” (Gilbert, Martin. A história do século XX. São Paulo : Planeta, 2016)


Trotsky defendia a concepção de uma revolução permanente, difundindo o socialismo pelo mundo. Stálin, por sua vez, queria a consolidação da revolução internamente, com a estruturação do estado socialista, para posteriormente tentar expandir o socialismo na Europa. 


Aos poucos Stalin conseguiu cooptar a burocracia russa – acostumada desde tempos imemoriais a apoiar o czarismo – derrotando Trotsky e assumindo o poder na União Soviética. 


“Sua ascensão ao centro do poder (Stálin) começou durante a guerra civil, entre 1918 e 1921, que opôs o Exército Vermelho, liderado por Leon Trótski, aos chamados russos brancos, apoiados pela Inglaterra, França e Estados Unidos. Causando mais estragos que os combates, no entanto, era a fome a grande vilã daqueles dias. Stálin foi designado como chefe da distribuição de alimentos.


Foi dentro da estrutura burocrática do partido que Stálin começou uma rápida escalada ao poder. Foi Comissário das Nacionalidades e Comissário do Controle do Estado, membro do Conselho de Defesa, membro do Orgburo (órgão responsável por checar os trabalhos das comissões do partido) e, finalmente, membro do Politiburo, o escritório político do partido, por onde passavam todas as decisões importantes.


Stálin se revelou um bom administrador nas funções que ocupou e utilizou cada uma delas para conquistar apoio de seus pares. “Além disso, durante a guerra civil, esteve à frente dos organismos que dotaram o Estado das ferramentas de controle e punição dos adversários”, diz Volkogonov. Em 1922, seus camaradas sabiam que ele não era simplesmente um executor dedicado, mas um especialista nas chamadas “medidas extraordinárias” ou “administrativas”, dois eufemismos para as “ações de repressão”.


Subestimado pelos camaradas (Trótski o chamava de “medíocre”), Stálin aproveitou as disputas internas e a recusa geral da idéia de liderança coletiva. Além do apoio formal, mas verdadeiro, de Lênin, ele contava com Lev Kamenev e Grigory Zinoviev, membros do Politiburo, para lançar o conceito de “segundo líder”, ou seja, aquele que estava e estaria para sempre comprometido com as idéias do primeiro – Lênin, é claro.


Em 1920, o aparato do Comitê Central já havia crescido o bastante para necessitar de alguém que cuidasse de sua organização. Foi a hora do bote. Em 5 de abril, foram nomeados três secretários. Kamenev trabalhou durante quase dois anos para convencer os demais da necessidade de um secretário-geral. Em 1922, o próprio Kamenev presidiu o plenário que indicou a candidatura de Stálin.


Se, depois da guerra, Lênin consolidou sua liderança política e ideológica e Trótski reafirmou sua influência entre a população e os militares, Stálin emergiu como controlador dos órgãos do partido e do Estado.” (https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/a-grande-farsa-de-stalin.phtml)



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